sábado, 29 de agosto de 2009

Letra

Palavras são brutas
São sutis, ásperas
Não estão nem ai
Não querem saber
Dizem o que tem de dizer
Disfarçam, entrelaçam
Desembaraçam, nos enganam
Esperam a hora certa, o deixa
Deixam tudo para traz
Jogam tudo para o alto
Decidem o futuro
Fazem a história
Correm
Andam
Cantam
Matam
Nos deixam esperando
Entram por um lado
Saem pelo outro
Ficam na memória
Lembram uma pessoa
Deixam os olhos arregalados
Lacrimejados, dilatados
Perdoam-nos, executam-nos
Vigiam-nos, humilham-nos
Aparecem do nada
E saem sem pedir
Voltam quando querem
E fogem de novo
São doces e inúteis em um elogio
E doídas, porém proveitosas
Quando nos criticam
São tudo o que for dito
E o que for lido
E feito, e ouvido
Merecem o respeito
E não o desperdício

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cena




Eram palavras, mil falas
Gestos, cores e caras
Um emaranhado de gente
Que corria para os lados
Batiam-se, debatiam
Olhavam nos olhos
E diziam palavras
Desconfortáveis
Verdadeiras e fortes
Ninguém os queria ouvir
Mas não havia saída
Estavam por todos os lados
Com paus e pedras
Cercavam tudo, até o teto
Suas vozes penetravam
E até machucava um pouco
Eram terrivelmente fortes
E leves, e espaçosos
Não havia brecha, nem furo
Nem farsa, nem sonho
Tudo era muito real
Tanto quanto o chão
Que estava logo ali
Acima do ator principal