Suspiros

As ondas sutis

(Des)silenciam as sombras

Sobras da noite

Parto-retrato

A palavra já nasce poema
Cabe ao poeta o parto
Mãe solteira de palavras
E linhas
E sons
E horizontes
E imagens
E pontos
Sem nó
desfazem os nós
as curvas das letras
Se curva o poeta
às palavras
Perdidas
Ante à pausa da pena
do lápis
Está o poeta
A esperar o parto
A negar o fato
A fugir do ato

Seu auto-retrato

Querubim

Quando eu nasci
Pai Ogum me disse
Vá à Quixeramobim
Confira os sucessos
Os sons de Chico

Ventos vão visitar suas vistas
Vozes voarão aos seus ouvidos
Pessoas empoeiradas te alimentarão
A secura do teu coração
Vai voar com os sopros dos sussurros
Ou virar lama lavada por tuas lágrimas

Leve seu bandolim
de tocar com cabelo de cavalo
Expresse suas mazelas
Agite um fado
Não seja chinfrim

Antes de chegar ao fim

Todos somos tolos
Soldados armados
Com pregos e martelos
Somos amados
Uns sonhos deixados de lado
Para umas realidades rodeadas
De soldados armados
Que nos cercam rodeiam
Tolos todos
Rodando e dançando

Correntes humanas
Cercando escravizando
Correntes humanas
De mão em mão
Elos soldados fundidos
A força unindo
À força nos pegam
À roda
Todos tolos estamos
Rodando e dançando
Correntes humanas
Cercando escravizando
Correntes humanas

Saudade

Lá é onde não aqui
Sorte de quem lá estiver
Foi pra longe quem me faz sorrir
Vai a vida
Se esquece que existe morrer
Morre-se aos poucos
aos trancos e barrancos, vive-se
Viver é ir morrendo
Morrendo aos poucos
Vivendo aos montes, morre-se
Quem chora esvazia-se
Esvaziado de morte
Vivo está


O bom da vida
é quando a morte passa de leve

O bom da morte
é quando a vida passa de vagar

A dor de tudo é vida e morte com pressa

Tudo vai sempre terminar e,
Valer a pena
Se o bom da vida ficar