quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mão na testa



Estou aqui perdido em meus pensamentos, embolado. Impossível não surgirem palavras nesse turbilhão de incompletos pensamentos. Sempre mal colocadas. Escassas sempre. Perdem-se facilmente minhas palavras. Na verdade acho que ainda não as encontrei, não todas. Como será que um bom escritor procura suas palavras, onde que ele as procura? Qual será a receita para um bom texto? Talvez não haja. Não há! Tantas palavras perdidas por ai, aguardando apenas serem escritas, lidas, faladas, sussurradas. Encontrei uma palavra boa de ser escrita, lida, falada e sussurrada: sussurro. Sussurro. Sussurro é uma ótima palavra. Vinícius de Morais escreveria sonetos falando de sussurro, Vinicius de Morais deve ter sussurrado muitos sonetos, talvez antes mesmo de escrevê-los. Mario de Andrade escreveria um ensaio ou um romance. Luiz Fernando Veríssimo escreveria uma crônica onde um segredo era repassado de geração em geração aos sussurros, e no momento em que o segredo seria revelado a menininha que diria tudo em voz alta, sairia correndo atrás de um balão em forma de coração. Eu estou procurando algumas palavras para tentar escrever um pouco sobre sussurro, sobre sussurrar. E que coisa boa é sussurrar, faz mal para a voz, mas ai cantores e radialistas que se cuidem, todos os outros podem sussurrar a vontade. As palavras mais belas são sussurradas ao pé do ouvido dos namorados e namoradas de todos os lugares. Os segredos sussurrados correm ligeiro da boca ao ouvido, sem passarem por outro lugar. As ameaças mais perigosas entram no ouvido de alguém que treme e sua de medo enquanto decifra as palavras de seu carrasco. Confusos, apressados, loucos e ocupados sussurram sozinhos, para si mesmo. Eu, antes de escrever essas palavras, as sussurrei para mim mesmo. O sussurro pode ser o inicio de uma experiência vocal, a tentativa de testar a palavra antes de pronuncia – lá, ou o final da experiência, com a certeza de que a palavra sussurrada surtirá maior efeito. Nos filmes épicos, os reis, antes de morrerem sussurram algo no ouvido de suas rainhas ou herdeiros do trono. Lideres de governo e criminosos sussurram suas estratégias entre si. Amigos do coração nos reencontros trocam palavras de saudade. Os conselheiros dos atletas nas olimpíadas. O maestro para o solista estreante. O casal de velhos numa lembrança. O jovem para seu cão amigo que esta doente. Os aflitos com suas orações. Os famintos com suas preocupações. O batedor de pênalti com a bola. Os que contem sua raiva. Os tímidos. Os frustrados. Os medrosos. Os precavidos. Os extravagantes. Os mentirosos. A plebe e a nobreza. Os andarilhos e os motoristas. Os generais e a polícia de guerra. Os médicos e os bibliotecários. Anjos e demônios. E como as palavras voltam a se perder, sussurro as palavras finais.